Não em uma gaveta.

"Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo" ♪♪
                              (Legião Urbana - Tempo perdido)

O que e teu mais queria agora é abraçar o teu abraço. Beijar os teus beijos. O que eu mais gostaria agora, é olhar teus olhos castanhos, tocar teus negros cabelos e te dizer: "Oi, sabia que eu te amo?"
Agora não sou mais eu a guria que te acompanha. Não sou mais eu aquela que abraça teus abraços e beija teus beijos. Me contento com a lembrança.
Ainda há possibilidade de tornarmos reais aqueles velhos planos? O chalé, os discos, as paredes texturizadas? A lareira acesa no inverno, o bom vinho na mesa, a rede na sacada da varanda? Ainda há tempo pra sentir saudade do que não vivemos? E do que vivemos?
E onde fica aquilo que tinhamos como objetivos? A nossa forma 'peculiar' de desejar uma família, composta de nenhum filho, mas vários sobrinhos? E as cadeiras de balanço da velhice? O jipe verde, as noites na barraca, os banhos de rio. Onde irão ficar nossos sonhos, não só os meus, nem só os teus, mas os nossos?
São tantas interrogações que me deixam cada vez mais confusa. Quando virás me buscar e dizer que tudo não passou de um engano e que o que é nosso está guardado? Mas que não esteja em uma gaveta, pois há gavetas que nunca voltamos a abrir.
Vivemos um amor tão louco, intenso, concreto e abstrato ao mesmo tempo. Todas as noites em que estivemos junt(o)s. Todas as noites que o que falou mais alto foi o silêncio e a vontade de não voltar para a realidade. Isso tudo cabe em uma gaveta? E a sinceridade das lagrimas? As brigas que não foram brigadas? Como é possível se desfazer de uma mor assim? Sem mágoas. Pois é, não guardamos mágoas. Apenas lembranças, boas, boas e boas. As ruins, prefiro não lembrar. E parafraseando Renato Russo: "Quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer que não existe razão?"
Todos os recados, das agendas, das cartas, das mensagens.. Até aquele que eu deixei no mural do laboratório que dizia assim: "Nós não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir.." Fomos não é mesmo? Que tudo isso fique sim guardado, mas não em uma gaveta.

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