Contra fatos não há argumentos.



“Contra fatos não há argumentos”, foi isso que ouvi durante um longo período da minha vida. Confesso que por certo tempo não compreendi o que isso queria dizer, até topar comigo mesma em uma esquinazinha de uma cidade fria em dias frios e quente em dias quentes. Aí sim, tomei nota de mim mesma e passei a escrever. A redigir pessoas, sentimentos, fatos. A pensar pessoas, que talvez para outros não existissem, mas que habitavam uma parte da minha mente e por vezes me ditavam quem ser e como agir. Livrei-me dessas pessoas, pondo-as no papel. E foi assim que começou.
Hoje, porém, sinto-me livre ao opinar sobre o que é certo ou errado, mesmo que para ‘alguns’ isso não faça o menor sentido, para outros o sentido não vem exatamente de mim, mas do que eu digo, ou talvez do que eu escrevo. Alguns, pouco conhecedores de mim, julgar-me-iam insensata, ou por vezes sensata demasiado. Temo que os que não me conhecem, ao conhecer-me decepcionar-se-iam. Ou quem sabe, eu mesma iria decepcionar-me.
Tenho pensado muito a respeito da essência, ou excelência do ser, como preferir. O que me faz ser quem sou? Quem me faz ser quem sou? Tenho plena consciência que não sou apenas embalagem e, tenho procurado olhar as pessoas, não com meus míseros olhos humanos, mas com olhos divinos, que ainda não me pertencem. Olhos humanos são superficiais, apenas vêem, não enxergam o que existe realmente. Olhos divinos são diferentes. Olhos divinos provam primeiro o conteúdo, para depois analisar a embalagem. Tenho tentado fazer isso.
Antigamente, ao ‘pensar-me’, temia o que encontraria, temia o olhar das pessoas, de que me vissem diferente, mas e daí? Eu sou diferente. A normalidade atrai apenas aqueles que se julgam superiores, mas não sabem que são tão iguais quanto os demais. Por isso contento-me em ser diferente. Em pensar diferente. Sentir diferente.
Mas ser diferente implica correr riscos. E riscos são coisas, as quais não temo, muito pelo contrario, fascinam-me mais e mais a cada dia. Arriscar é o que falta no mundo. Pessoas que se arrisquem a fugir do sistema controlador que é a mídia, ou mesmo o sistema controlador que é o interesse de algumas pessoas que se dedicam a ferir e magoar outras. A buscar nas outras, defeitos que, muitas vezes, não existem apenas para esconder os seus. Quanta hipocrisia em uma sociedade a qual se julga liberta de preconceitos, mas não conseguem aceitar os seus próprios filhos como pessoas que pensam diferente.
Suponho que quem aponta falhas nos outros, não consegue enxergar nem mesmo suas próprias qualidades. Não sabe admirar a si mesmo e por isso encontra meios de tirar a beleza que o outro possui naturalmente. Não a beleza física, mas a de seus ideias, seus pensamentos. Não considero um rapaz que ouve Renato Russo ou Cazuza homossexual, apenas pelo seu gosto musical e nem que uma garota que ouve Cássia Eller e Ana Carolina possa ser lésbica, apenas pelo fato de gostar de músicas ‘com letra’. Assim, como nem todo mundo que escuta funk é “favelado”, ou que escuta sertanejo é “corno”, ou que gosta mais de hip-hop um bandido ou marginal. As pessoas têm muito mais em si mesmas, do que aparentam seus gostos musicais. E não compete a nenhum ser humano definir o que alguém é ou deixa de ser, apenas por coisas superficiais. Na realidade, não compete a ninguém julgar os demais.
Por vezes me encontro em frente a uma sociedade que se diz “sinal de mudança”, mas que não consegue mudar seu próprio modo de pensar e, se preocupa em moldar pessoas, em manipulá-las, torná-las fantoches, bonequinhos que pensam ter opiniões próprias, mas apenas seguem a alguém que se cobre de mascaras, por que tem medo do que encontrará ao deixá-las cair. Tenho medo dessa sociedade que se diz transformadora, mas usa seu tempo de encontro com o Divino, para apenas se isentar da culpa por não fazer nada para mudar. Por apenas levar um nome, mas não honrá-lo. Por se mostrarem uma coisa, mas por de trás das cortinas serem outra completamente diferente. Tenho medo dessas pessoas que se julgam atores principais, mas não passam de figurantes, tentando roubar o lugar de outros por trás, nos bastidores.
Hipócritas. É isso que são. E não sabem reconhecer. Tudo bem, eu mesma presenciei vários encontros com o Ser Superior e nem por esse motivo me vanglorio. E fico muito contente, por poder ter esse encontro sempre que Ele acha necessário e não em datas marcadas, duas ou três vezes ao ano. Fico muito feliz por que no momento em que encontrei-me com Deus, eu encontrei-me comigo mesma e não foi preciso nenhuma data marcada e nem pessoas me dizendo o que ser e como agir. Minhas ações independem da opinião das pessoas. É certo que as mesmas contam pontos, mas não ao ponto de fazerem-me pensar como os demais.
O mundo está cheio de ‘demais’ e eu não quero estar entre essa estatística. Talvez, eu não passe de alguém que apenas escreve o que sente talvez eu não passe de um mórbido ser (com intelecto superior ao da mulher melancia), mas que por respeito prefere escrever tudo, ou quase tudo, o que sente, para não ferir sentimentos alheios, mesmo que isso, às vezes, me pareça necessário. Gostaria apenas que as pessoas, em sua maioria, pudessem ver as outras como eu mesma gostaria de ver, com olhos de homem divino. E que isso pudesse, de certa forma, influenciar o pensamento de quem se julga superior, mesmo não passando de mais um numero em uma estatística. Afinal, contra fatos na há argumentos.

Vacaria, 04 de outubro de 2009. Primavera.

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