Eduardo e Mônica.


Fim de tarde. Ônibus lotado. Legião Urbana. A menina ouvia sua música predileta enquanto lia seu livro predileto, o menino ouvia sua música predileta enquanto segurava sua ânsia de chegar em casa e ligar seu computador para jogar. Ela estava sentada e mergulhava dentro do seu mundo, ele estava em pé e seus dedos inquietos rebatiam o apoio do ônibus.  Sinal verde, sinal amarelo, poff... O ônibus freou e aquele mp3 velho do menino caiu sobre o livro aberto da menina. Os passageiros tentaram se recompor, mas os ouvidos da garota captaram a música daquele mp3 velhinho. O menino se desculpou, ela disse que ele não tinha culpa e sorriu. Ele não tinha jeito para sorrisos e, quando sorriu, ela notou que era verdadeiro.  O velhinho do lado da menina ficou brabo e se levantou para resmungar contra o motorista, ele não tinha nada a ver. Senta do meu lado, convidou a menina. Ela não sentiu vontade de saber tudo sobre ele naquele momento, ela só queria tentar roubar outro sorriso dele. O velhinho resmungou tanto que saiu do buzão para ver o acidente e perdeu o ônibus quando deu partida, o motorista fez de propósito. Mas a garota era de uma curiosidade extrema, espírito aventureiro e investigativo, de uma vontade desacerbada pelo novo e ao mesmo tempo antigo – pelo desconhecido – tinha uma vontade de conhecer tudo, viajar o mundo todo, escutar o problema dos outros e dizer que tudo vai dar certo. O garoto ficou surpreso quando descobriu tudo isso sobre a garota, ele não tinha tantas vontades ou desejos, apenas queria ser independente – ele não falava muito, ela falava tudo e ainda deixava segredos no ar. A parada de um dos dois estava chegando e entre conversas e desconversas, a garota mexeu em algumas coisinhas. Até mais, até mais, responderam. Quando o garoto recolocou seus fones e olhou para janela para observar uma última vez aquela garota, a música tinha mudado. Próxima música, outra música, última música. Não era o seu mp3 velhinho cheio de músicas do rock metal.  Atrás do mp3 idêntico ao dele, só que bem cuidado, tinha o nome de Mônica e seu telefone.


Torpedos:
Ele: Por que você trocou os mp3?
Ela: O meu é mais novo, resolvi dar de presente.
Ele: Você me conheceu hoje.
Ela: Tem certeza?
Ele: Do que você ta falando?
Ela: Nada não.
Ele: Eu quero meu mp3 de volta.
Ela: Vou cuidar do seu mp3. Não se preocupe.
Ele: Louca. Maluca. Pirada.
Ela: Eu sei.
Ele: Prazer, eu sou Eduardo.

E ele só queria uma desculpa para falar outra vez com ela e não teve  coragem de pedir o seu telefone. Bem, ela trocou os mp3s.

Texto retirado do blog Eppifania, por .

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