Segundas intenções.

Carolina. Seu nome era Carolina. Dormia tarde. Acordava cedo. Olhos castanhos, cabelos negros, boca pequena, labios bem desenhados. Caminhava como se andasse nas nuvens. Tirava o sono dos que a olhavam.
Seu sorriso era motivo da inquietação noturna de muitos. Sua pele tinha um bronzeado perfeito, que causava inveja em qualquer euopéia brasileirizada. Mãos leves como plumas, dedos finos. Dois anéis. Um em cada mão. Vestiasse sempre com cores alegres, o que fazia com que se destacasse, mesmo que isso não fosse a sua intenção. Carolina.
Modesta, bonita, pouco vaidosa. Isso até se dar conta da mulher que era. Inteligente, sagaz. Uma fera dentro de uma princesa. Tinha algo meio psicopata em seu olhar. Algo que revelava quem ela era por tras do rosto de boa moça. Aquela coisa que só vemos que existe quando já é tarde demais. Ela, Carolina, tinha o dom de brincar com a vida das pessoas. Muitas vezes o fazia inconscientemente, apesar que por baixo dos cabelos negros não havia consciencia nenhuma. Usava de meios simples para se aproximar das pessoas. Sorrisos discretos, frases feitas que caem bem em qualquer ocasião, sempre as mesmas frases, nunca as mudava. Olhava as pessoas nos olhos, mantinha um falsa sinceridade que ninguem desconfiava que existisse. Carolina, seu nome.
Quantas pessoas passaram em sua vida. Com quantos ela jogou o jogo que criou e mantinha sem nem mesmo notar? Pobre Carolina. Peturbou a mente de tantos mortais desafortunados até que um dia sentiu-se perturbada. Ela amava alguém. Alguém tão parecido com ela, que ela sequer imaginava que existisse. Parecido em muitos detalhes. Com e sem segundas intenções eram seres parecidos. Carolina estava tensa. Se entregou. Pobre Carolina. O veneno que se bebe na própria taça é tão mortal quanto o que se bebe na taça alheia. Ela fora usada. Como havia feito com muitos. Nunca ninguém havia ousado sequer tentar usar Carolina. Ela era esperte, ligeira. Mas estava rendida a um par de olhos tão castanhos quanto os seus.
Carolina não era mais a mesma Carolina. A psicopata agora havia mostrado as garras. A fera agora também estava ferida. Pobres daqueles que cruzassem seu caminho.
Carolina. Mulher, adulta, madura, boa e má ao mesmo tempo. Dotada de qualidades, recheada de defeitos. Dominava. Podia. Mandava. Era melhor do que nunca. Superior à si mesma. Estava apenas testando. Todo teste pode dar errado, mas ela não se importava, ainda estava jogando. E como em um reality show, era a favorita. Esqueçamos as segundas intenções. Agora elas já fazem parte do primeiro plano. E Carolina continua jogando, mulher, fera, ferida. Cortou quantos laços pôde. E agora sabe que para ganhar, alguém tem que perder. Não, Carolina não vai perder.

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